10 de mar. de 2012

O homem de nada pode gloriar-se

"Se entro em mim mesmo e pergunto o que sou, que encontro, ó meu Deus? Uma razão incerta sempre pronta a extraviar-se, afeições inconstantes, temores vãos, inclinações viciosas, inumerável multidão de desejos importunos que de contínuo me agitam e me atormentam; por vezes uma alegria fugitiva, habitualmente um aborrecimento enfadonho, não sei que instinto do céu e todas as paixões da terra; vontade fraca que a um tempo quer e não quer, grande orgulho e maior miséria: eis o meu estado qual o fez o pecado, e sinto-me demais a mais sem forças para levantar uma natureza tão profundamente abatida. Foi mister que o mesmo Deus viesse levantar este peso enorme da degradação; se não fosse o Redentor divino, sobre as ruínas do homem pesaria a inexorável eternidade!
Apareceu, enfim, o Redentor e disse: "Eis-me aqui" e seu sangue satisfez à justiça divina, e sua graça reparou a rudeza do entendimento e a desordem do coração: por ela foi restabelecida a imagem de Deus em sua criatura decaída. Incompreensível mistério de amor! E como responder a tal benefício? Reconheçamos ao menos nossa fraqueza e indigência..."

Do livro Imitação de Cristo, livro terceiro, cap. XL, pg. 271 e 272

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